Conflito Israel-Hamas: Uma Ferida Aberta no Oriente Médio

Conflito Israel x Hamas

Um mergulho nas raízes históricas, no presente conturbado e nas tensões que ecoam por toda a região.

O Oriente Médio, mais uma vez, se encontra no epicentro de uma crise que captura a atenção do mundo. O conflito entre Israel e o Hamas, uma espiral de violência que se intensificou dramaticamente, não é um evento isolado, mas o capítulo mais recente de uma longa e dolorosa história. Para compreender a complexidade dos acontecimentos atuais, é fundamental olhar para o passado, entender as queixas de ambos os lados e analisar como as tensões regionais alimentam o fogo.

As Raízes de um Conflito Centenário

A disputa pela terra que hoje abriga Israel e os territórios palestinos remonta ao final do século XIX, com o surgimento do movimento sionista, que defendia a criação de um Estado judeu na Palestina. Naquela época, a região era majoritariamente habitada por árabes.

Após a Primeira Guerra Mundial, a Palestina ficou sob mandato britânico. A crescente imigração judaica, impulsionada pela perseguição na Europa, acirrou as tensões com a população árabe local. Em 1947, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs um plano de partilha da Palestina em dois Estados: um judeu e um árabe. A liderança judaica aceitou o plano, mas os Estados árabes o rejeitaram.

Em 1948, com o fim do mandato britânico, foi declarado o Estado de Israel. Imediatamente, uma coalizão de países árabes atacou o novo país, dando início à primeira guerra árabe-israelense. A vitória de Israel resultou na expansão de seu território para além do previsto no plano da ONU e no êxodo de centenas de milhares de palestinos, um evento que ficou conhecido como a “Nakba” ou “catástrofe”.

As décadas seguintes foram marcadas por mais guerras e pela ocupação israelense de territórios palestinos. A Guerra dos Seis Dias, em 1967, foi um ponto de virada crucial. Nela, Israel conquistou a Faixa de Gaza e a Península do Sinai do Egito, a Cisjordânia (incluindo Jerusalém Oriental) da Jordânia e as Colinas de Golã da Síria.

O Surgimento do Hamas e o Bloqueio de Gaza

É neste cenário de ocupação e resistência que o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) foi fundado em 1987, durante a Primeira Intifada, uma revolta popular palestina contra a ocupação israelense. Diferentemente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), de orientação mais secular, o Hamas possui uma ala política e uma militar e defende a criação de um Estado islâmico palestino.

Em 2005, Israel retirou unilateralmente suas tropas e colonos da Faixa de Gaza. No ano seguinte, o Hamas venceu as eleições parlamentares palestinas e, em 2007, após um breve conflito com o Fatah (o partido que domina a OLP), assumiu o controle total de Gaza. Em resposta, Israel e o Egito impuseram um bloqueio terrestre, aéreo e marítimo ao território, restringindo severamente a circulação de pessoas e mercadorias.

A Escalada de 2023: O Ataque de 7 de Outubro e a Resposta de Israel

O conflito atual eclodiu em 7 de outubro de 2023, quando militantes do Hamas realizaram um ataque sem precedentes em território israelense. O ataque, que envolveu o lançamento de milhares de foguetes e a infiltração de combatentes em comunidades do sul de Israel, resultou na morte de cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, e no sequestro de mais de 250 reféns.

A resposta de Israel foi uma declaração de guerra ao Hamas e o lançamento de uma intensa campanha militar na Faixa de Gaza, denominada Operação “Espadas de Ferro”. A ofensiva inclui bombardeios aéreos massivos e uma incursão terrestre que visam desmantelar a infraestrutura militar e a liderança do Hamas.

A Crise Humanitária em Gaza

A guerra tem tido consequências devastadoras para a população civil de Gaza. Com o bloqueio intensificado, a entrada de ajuda humanitária, alimentos, água, medicamentos e combustível foi severamente restringida. Relatórios de agências da ONU e organizações humanitárias pintam um quadro desolador, com a fome sendo oficialmente declarada em partes de Gaza.

A grande maioria da população de 2,3 milhões de habitantes foi deslocada de suas casas, e a infraestrutura civil, incluindo hospitais, escolas e residências, sofreu danos generalizados. O número de mortos palestinos ultrapassa dezenas de milhares, com uma parcela significativa de vítimas sendo mulheres e crianças.

Tensões Regionais e o Risco de uma Guerra Mais Ampla

O conflito em Gaza reverbera por todo o Oriente Médio, aumentando o risco de uma escalada regional. O Hezbollah, um poderoso grupo militante xiita libanês e aliado do Irã, tem trocado fogo com as forças israelenses na fronteira norte de Israel desde o início da guerra. Embora os confrontos tenham sido, em sua maioria, contidos, existe o temor de que um erro de cálculo possa levar a uma guerra total entre Israel e o Hezbollah, que é considerado mais poderoso militarmente que o Hamas.

Outros grupos apoiados pelo Irã no Iraque, Síria e Iêmen também realizaram ataques contra alvos israelenses e norte-americanos na região. Os Estados Unidos, principal aliado de Israel, enviaram recursos militares para o Mediterrâneo Oriental em uma tentativa de dissuadir o Irã e seus aliados de entrarem no conflito. A situação é volátil e um confronto direto entre Israel e o Irã é uma possibilidade que preocupa a comunidade internacional.

O Caminho Incerto para a Paz

Diante da escala da violência e da crise humanitária, os apelos por um cessar-fogo e por uma solução política se intensificam. No entanto, as posições de ambos os lados permanecem distantes. Israel insiste que não irá parar até que o Hamas seja erradicado e todos os reféns sejam libertados. O Hamas, por sua vez, condiciona a libertação dos reféns ao fim da ofensiva israelense e à soltura de prisioneiros palestinos.

A comunidade internacional está dividida. Enquanto muitos países ocidentais apoiam o direito de Israel à autodefesa, há uma crescente condenação à resposta militar israelense em Gaza e à crise humanitária resultante. A solução de dois Estados, com um Estado palestino independente coexistindo ao lado de Israel, continua sendo a base para a maioria das propostas de paz, mas sua viabilidade parece cada vez mais distante em meio à desconfiança e ao ódio mútuos.

A atual guerra em Gaza não é apenas mais um episódio de violência no longo conflito israelo-palestino. Sua intensidade, o número de vítimas civis e o risco de uma conflagração regional a tornam um momento perigoso e definidor para o futuro do Oriente Médio. Encontrar um caminho para a paz exigirá não apenas o fim das hostilidades, mas também um compromisso genuíno para abordar as causas profundas de um conflito que já dura gerações.

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