Inteligência Artificial e Identidade Digital em 2025

Inteligência artificial

Por que falar de identidade humana na era da IA

A identidade, que antes se ancorava em traços físicos e documentos, hoje inclui voz, rosto, escrita e presença online—todos facilmente imitáveis por modelos de IA. Em 2025, golpes com clonagem de voz e deepfakes dispararam globalmente, impulsionados por ferramentas baratas e acessíveis. Relatos indicam alta de 148% em golpes de impersonação por IA e fraudes milionárias envolvendo vídeos e chamadas “reais”. a IA também cria personas sintéticas (influenciadores virtuais) que ocupam espaço social e comercial, levantando perguntas sobre autoria, autenticidade e identidade digital. Exemplos recentes — de influenciadores gerados por IA a celebridades “ressuscitadas” por voz clonada — mostram que a fronteira entre o humano e o sintético ficou porosa.

O que está acontecendo no Brasil

1) Regras eleitorais: deepfakes proibidos

O TSE regulamentou o uso de IA em campanhas e proibiu deepfakes nas eleições municipais/gerais, exigindo rotulagem de conteúdo sintético e medidas de transparência. O objetivo é preservar a integridade do voto e coibir manipulação audiovisual. 

2) Projeto de lei de IA (PL 2.338/2023)

O PL 2.338/2023 busca um marco legal para IA no Brasil, aprovado no Senado no fim de 2024 e atualmente em tramitação na Câmara (sem prazo definido). O texto mira direitos fundamentais, segurança e responsabilização

3) Diretrizes no Judiciário

O CNJ avançou com diretrizes para desenvolvimento, uso e governança de IA no Judiciário, estabelecendo princípios como transparência, segurança e respeito a direitos. CNJ

4) Identidade “comercial”: influenciadores virtuais

A brasileira Lu do Magalu é referência global: a avatar acumula milhões de seguidores, capa de revista e campanhas com grandes marcas—um caso que redefine a identidade digital de marcas e a relação com o público. 

5) Eleições e desinformação

Monitoramentos independentes nas eleições de 2024 registraram uso de conteúdo sintético por candidatos e casos de desinformação, reforçando a necessidade de rotulagem e checagem. 

O panorama global: leis e casos que moldam a “identidade digital”

  • União Europeia – AI Act: exige rotulagem clara de conteúdo gerado por IA (incluindo deepfakes), além de obrigações de transparência para sistemas de alto impacto. 
  • Estados Unidos – proteção contra impersonação: a FTC propôs regra para proibir a personificação de indivíduos por IA; em 2025, o Congresso aprovou legislação para retirada de deepfakes íntimos não consensuais (TAKE IT DOWN Act). Houve também ajuste de diretrizes federais sobre IA no início de 2025. 
  • Casos de alto impacto: golpes com vídeos e vozes clonadas já levaram empresas a transferirem somas acima de US$ 25 milhões e eventos de segurança registraram “pegadinhas” com QR code e deepfakes para conscientizar profissionais. 
  • Tendência em números: pesquisas indicam aceleração dos incidentes com deepfakes em 2025 (crescimento de ataques a celebridades e políticos; expansão contra o público em geral). Relatórios do 1º tri de 2025 apontam centenas de casos documentados

O que exatamente está em jogo na identidade humana

  1. Autenticidade: quando tudo pode ser imitado, provas de identidade dependem cada vez mais de verificação multifator (algo que você é, tem e sabe).
  2. Autoria e direitos: voz, imagem e estilo passam a ter valor econômico—e precisam de consentimento explícito e contratos claros.
  3. Confiança pública: ambientes cívicos e jornalísticos exigem rótulos de conteúdo sintético, pegadas digitais verificáveis e mecanismos de auditoria.
  4. Bem-estar psíquico: ver-se “fazendo” algo que você nunca fez abala a autoimagem; cuidar da higiene digital é também cuidado de saúde mental.
O uso da IA no mundo

Como proteger sua identidade digital (checklist prático)

  • Ative MFA em e-mail, redes e banco; valide por canal diferente antes de enviar dinheiro/dados. 
  • Use palavras-código familiares para emergências (por telefone/mensagens).
  • Desconfie de urgência + pedido financeiro; peça uma chamada de vídeo e faça perguntas que só a pessoa real saberia. 
  • Configure alertas de menção ao seu nome e monitoramento de imagem/voz quando possível.

Para marcas, criadores e empresas

  • Rotule conteúdo gerado/alterado por IA e mantenha trilha de produção (metadados, watermarks). 
  • Adote políticas de IA internas (uso, auditoria, segurança, direitos de imagem/voz).
  • Treine equipes para reconhecer sinais de deepfake e padronize procedimentos de confirmação antes de pagamentos e divulgações. 
  • Se usar influenciadores virtuais, deixe claro que são sintéticos e documente consentimentos/licenças.

Oportunidades legítimas (quando a IA potencializa a identidade)

  • Acessibilidade: vozes sintéticas para pessoas com perda de fala—com consentimento e controles de uso.
  • Presença de marca: avatares como Lu do Magalu ampliam escala e consistência de comunicação (quando bem rotulados e alinhados a valores). 
  • Segurança: biometria com provas de vida e detecção de inconsistências de áudio/vídeo podem reduzir fraudes (quando projetadas com privacidade).

Perguntas éticas para guiar decisões (rápido diagnóstico)

  • Transparência: o usuário sabe quando interage com IA? (Sim/Não) 
  • Consentimento: a pessoa autorizou o uso de sua voz/imagem/estilo?
  • Finalidade legítima: o uso melhora o serviço sem manipular emoções indevidamente?
  • Risco residual: há plano de resposta se houver abuso (takedown, retratação, reparação)?

Em 2025, identidade digital é um ativo pessoal e corporativo. O Brasil avança com regras eleitorais, diretrizes no Judiciário e debate do PL 2.338/2023, enquanto UE e EUA consolidam obrigações de rotulagem e combate à personificação por IA. Entre riscos (golpes, desinformação) e oportunidades (acessibilidade, novos formatos de presença), o eixo central é transparência + consentimento + verificação

Livros recomendados: