Megaoperação unida desmonta esquema bilionário do PCC

Operação Carbono Oculto

A Polícia Federal, junto à Receita Federal e Ministério Público, deflagrou a megaoperação Carbono Oculto contra um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). A ação se destaca por seu alcance, complexidade e impacto econômico.

Detalhes da Operação

A operação mobilizou 1.400 agentes em oito estados (SP, RJ, PR, SC, MT, MS, ES e GO), com 350 mandados cumpridos e bloqueio de R$ 1 bilhão em bens.

Foram investigados mais de 350 alvos, entre pessoas físicas e jurídicas, incluindo escritórios na Avenida Faria Lima, principal centro financeiro do país

Modus Operandi do Esquema

  • O PCC operava uma rede de cerca de 1.000 postos de combustível em 10 estados, movimentando aproximadamente R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024.
  • Uma fintech atuava como banco paralelo, movimentando cerca de R$ 46 bilhões sem rastreamento pelas autoridades.
  • Foram utilizados 40 fundos de investimento, com cerca de R$ 30 bilhões em patrimônio, para ocultar os recursos ilícitos.
  • O esquema também envolvia a adulteração de combustíveis com metanol e nafta, fraudes fiscais estimadas em R$ 7,6 bilhões e ameaça a proprietários de postos que tentaram reivindicar valores legítimos.
Esquema do PCC

Patrimônio e Alvos Apreendidos

  • A PF apreendeu 141 automóveis, sequestrou judicialmente 192 imóveis e duas embarcações. Houve bloqueio de mais de R$ 1 bilhão, além de R$ 300 mil em dinheiro vivo.
  • Ficaram envolvidos nomes como Reag Capital, que teve seus escritórios visitados e viu suas ações despencarem 17% na B3, além de fintechs como BK Bank e empresas do setor financeiro instalado na Faria Lima.

Perspectiva das Autoridades

  • O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, alertou que o esquema não servia exclusivamente ao PCC, mas também a sonegadores e outros agentes ilícitos. Ele destacou a estrutura de “contas-bolsão”, empresas de fachada e operações com fundos fechados que dificultavam rastreamento.
  • Os ministros Ricardo Lewandowski (Justiça) e Fernando Haddad (Fazenda) reforçaram que a ação combate a transição do crime organizado da ilegalidade para a economia formal e representa uma adaptação do Estado ao nível de organização do crime moderno.

Declarações das Autoridades:

  • Diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues:
    “Essas estruturas funcionavam como lavanderias financeiras profissionalizadas… poderiam ser usadas por qualquer organização criminosa.”
    A operação espelha a atuação articulada da PF, Receita e MP
  • Ministros Ricardo Lewandowski (Justiça) e Fernando Haddad (Fazenda):
    Destacaram que o crime se sofisticou, migrando da “ilegalidade para a legalidade” e invadindo o setor formal — e que a ação representa resposta técnica e institucional ao crime moderno 

  • Subsecretária da Receita Federal, Andrea Costa Chaves:
    Descreveu a fintech como um banco paralelo e enfatizou o valor acumulado em fundos e bens bloqueados 

Impactos e Consequências

  • A operação revela o grau de infiltração do PCC na economia, desde postos e usinas até fundos e fintechs — uma “refinaria do crime”, como disseram autoridades
  • Ao desarticular essa estrutura, o Estado mostra que pode enfrentar o crime organizado com técnica e independência, além de enviar mensagem clara à sociedade sobre sua capacidade de investigar e combater a corrupção sistêmica.
Operação contra esquema do PCC

Contexto Histórico do PCC

O Primeiro Comando da Capital (PCC) surgiu em 31 de agosto de 1993, na Casa de Custódia de Taubaté (“Piranhão”), fundado por oito detentos que formaram um time de futebol com o mesmo nome. Durante uma partida, assassinados líderes rivais, consolidando a facção como dominante no presídio. 

O grupo nasceu como resposta ao massacre do Carandiru, quando 111 presos foram mortos pela polícia em 1992  Seu lema: “Irmão não mata irmão… Os ‘Fundadores’ são os chefes”.

Sob a liderança de Marcola, especialmente a partir dos anos 2000, o PCC evoluiu de uma facção prisional informal para uma organização sofisticada com atuação fora dos muros dos presídios. Parte de sua estratégia envolvia rebeliões e atentados como os de maio de 2006, que resultaram em centenas de mortes e paralisações nas grandes cidades .

O grupo também estabeleceu alianças e rivalidades com outras facções, como o Comando Vermelho (CV), em disputas violentas por territórios entre 2016 e 2020. Notáveis também são as parcerias internacionais, incluindo redes de tráfico e lavagem de dinheiro com Hezbolah, conforme relatórios de segurança global .

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